Com frequência ouvimos de algumas pessoas envolvidas com denominações cristãs a frase comum: "a letra mata", como justificativa para rejeitar a observância das Escrituras. Estaria o apóstolo Paulo nos ensinando a cometer suicídio intelectual?
Concordamos que não pode haver um intelectualismo árido, mas também não podemos cair no subjetivismo de um anti-intelectualismo difundido em muitas dessas denominações. Usar a frase "a letra mata" é jogar a culpa na Bíblia e dizer que não se pode estudar muito e que a Bíblia pode matar. Ora, além de tal frase estar fora de contexto, ela é ignorantemente utilizada por aqueles que não sabem que letra é essa. A Bíblia é um livro santo e dá vida a todos os que a leem e compreendem. Ela "mata" sim, a ignorância, o erro, a heresia e o engano. No geral, as pessoas que usam da frase, querem defender um pragmatismo de milagres, sinais e prodígios em detrimento dos limites da Soberania de Deus e de seu evangelho. Começa a existir um outro jesus. Enxergam só o Jesus dos sinais e não querem ver o Jesus que ensina as Escrituras. Para eles, se não houver um sinal, então Jesus não estava lá, mesmo que a verdade do evangelho seja proclamada. Cremos nos milagres, mas nossa fé está no Senhor dos milagres. Jesus os realizava para revelar a glória do Pai, suas credenciais como o Messias enviado de Deus e cumprir as Escrituras proféticas. Jesus jamais fazia sinais com o intuito de fazer um espetáculo circense ou satisfazer os desejos de um coração incrédulo e pecaminoso. Jesus queria ser conhecido, principalmente, pelo que era. As pessoas que mais viram milagres na Bíblia foram: o povo hebreu no deserto, Faraó no Egito, os discípulos e os líderes do tempo de Jesus. Nada disso os fez mais crédulos ou piedosos. Israel viu muitos sinais no deserto, mas não entraram na terra prometida; Faraó presenciou vários prodígios pelas mãos de Moisés, mas isso não o tornou mais temente ao Deus de Israel. Os discípulos não conseguiam entender o propósito dos sinais de Jesus. Depois da ressurreição de Lázaro "...Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, vendo o que fizera Jesus, creram nele. Outros, porém, foram ter com os fariseus e lhes contaram dos feitos que Jesus realizara..."(João.11:45,46). Como resultado dessa delação aos fariseus, nos é dito que "...os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro; porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus."(João.12:9-11). O mesmo sol que amolece a cera é o mesmo que endurece o barro. Reuniões de sinais e milagres se transformam em reuniões de crianças espirituais que fazem "birra" com Deus e o querem colocar "colocar na parede"! Outros limitam a ação de Deus a um lugar específico, não sabendo que Ele é soberano e livre para escolher quando e como fazer milagres. Outro problema é que quando o homem tem prazer no engano, Deus o entrega às suas próprias cobiças e desejos pecaminosos (Rom.1:18-32; II Tessal.2:7-12). Um princípio importante está demonstrado em Deut.13:1-5:
"Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma..."
Sinal e ensino enganoso. Um sinal acontece e o profeta prega o engano e desvia o povo da lei do Senhor. O próprio Deus quer provar os corações! Há líderes que vendem a alma para dizer o que o povo gosta de ouvir. Alegorizam, distorcem e inventam o que não está escrito. Descontextualizam as Escrituras. Mas porque fazem sinais, não são questionados em seus ensinos. Parecem com o personagem Seu Samuel da Escolinha do Professor Raimundo: "Fazemos qualquer negócio!" Mas o evangelho bíblico está apoiado no maior desprezo e no maior milagre de todos os tempos: a cruz e a ressurreição de Cristo. Quem Jesus é e Suas obras são o foco do evangelho e quando nos desviamos do foco, certamente corremos grande perigo.
Ruben Page
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