Nos últimos dias vários irmãos e irmãs, de congregações e cidades
diferentes, têm conversado comigo a respeito de um mesmo problema. A
maioria deles pede ajuda e conselhos porque não estão mais suportando o
ambiente de tensão nas
igrejas onde congregam.
Esse problema não é exatamente uma novidade, mas chama atenção como
tantas pessoas estão enfraquecidas justamente por isso, e pedindo ajuda.
Elas fazem várias alegações. Que são constantemente cobradas para que
alcancem as “metas” estipuladas pelas suas respectivas igrejas, o que
torna suas vidas um redemoinho de reuniões, encontros, eventos,
congressos, dentre outros que, por vezes, prejudicam até mesmo a relação
familiar dos mesmos, dada a ausência constante no lar.
Também se sentem oprimidas pelo bombardeio de ensinos e pregações a
respeito de finanças, entrando em várias encruzilhadas do tipo “suprir
as
necessidades da casa ou da igreja?”.
Mas o que é pior e comum a todos são as constantes ameaças que sofrem,
especialmente por parte das lideranças. São ameaçados de maldição se não
contribuírem com as quantias absurdas que pedem em todo tipo de
reunião. São ameaçados de maldição caso questionem qualquer tipo de
ordem ou ensino da liderança, por mais absurdo que sejam. São ameaçados
de maldição se frequentarem outras congregações. A lista de ameaças não
para, são constantes, por tudo, e em todo tempo.
Além das ameaças, qualquer tipo de “desobediência” por vezes é exposta
diante de todos, durante os cultos. Tudo isso causa um clima de opressão
que retira a paz, causa medo e abre feridas que se mantém geralmente
escondidas, mas que não saram.
Aliada a falta de ensino bíblico consistente, o que mantém estes irmãos
na mais plena ignorância, típico de governos autoritários, essa
realidade ocasiona uma verdadeira prisão, um fardo quase insuportável de se carregar.
Aqueles que têm zelo pelas Sagradas Escrituras já sabem onde quero chegar. Vou deixar então que esta Palavra fale por mim:
“No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o
medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor”. (1Jo 4:18)
Sabe quando você está numa igreja, e tudo que te ensinam te causa mais
medo do que esperança? Sabe quando você está numa igreja, e se você
questionar qualquer coisa, logo é advertido quanto ao risco que está
correndo de ser amaldiçoado? Sabe quando você está numa igreja e no
lugar de se sentir livre para viver e para pensar, você se sente
oprimido por tantas cobranças e por um fardo quase impossível de
suportar?
Pois é, essa igreja não ama, e se não ama, não está a serviço de Deus.
Quem ama perdoa, quem ama acolhe, quem ama jamais ameaça, quem ama
jamais amaldiçoa, quem ama não mete medo. Quem ama, simplesmente ama.
Lembro-me do vídeo de um dito apóstolo brasileiro, que rolou nas redes
sociais nas últimas semanas, onde o mesmo esbraveja contra aqueles que o
criticam declarando que “Deus o mate em três dias” caso ele não seja
profeta, mas se não matar então que sejam todos os seus questionadores
amaldiçoados. Tudo isso com uma expressão clara de ódio.
Cito este vídeo apenas para ilustrar algo. Vejamos novamente o que a bíblia diz a respeito destas coisas:
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal,
preferindo-vos em honra uns aos outros; não sejais vagarosos no cuidado;
sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na
esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; acudi aos
santos nas suas necessidades, exercei a hospitalidade; abençoai aos que
vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis”. (Rm 12:10-14)
Diferente do como o tal “apóstolo” se comportou, Deus nos ensina a não
amaldiçoar, mas a abençoar aqueles que nos perseguem. Se lembrarmos que o
contexto de perseguição relatado pelos apóstolos verdadeiros, bíblicos,
é sempre de alguém que sofre perseguição por amor a Cristo e não por
desvios doutrinários, a coisa fica ainda mais complicada.
Mas então, se até mesmo aqueles que me perseguem devem ser abençoados
por mim, jamais amaldiçoados, se até mesmo meus inimigos devem receber
minhas orações, meu bem, meu perdão (Lc 6:27-28), quanto mais os meus irmãos!
Percebem o absurdo que é uma congregação, uma liderança cristã, ou
qualquer outro participante do corpo de Cristo manter o costume de
ameaçar outros irmãos, seja qual for o motivo? Percebem que isso não é
cristianismo? Percebem que isso não é o amor cristão?
Viver em uma comunidade cristã é estar entre pessoas que te amam, que te
perdoam, que convivem com as tuas falhas sem te impor fardos pesados,
mas que te ajudam a carregar os fardos da vida (Gl 6:2; Cl 3:13), sem acrescentar outros.
Que terrível é ser livre da escravidão do pecado para ser escravo numa
congregação cristã! Que terrível é acreditar no fardo suave de Cristo
sem jamais experimenta-lo! Que terrível é viver oprimido por aqueles que
um dia te prometeram liberdade e paz!
Não é meu costume dizer isso, mas nesse caso não há outra solução:
irmãos, fujam de igrejas onde no lugar de amor, há ameaça, no lugar de
paz, há opressão, no lugar de serviço, há escravidão e no lugar de
irmãos, há chefes. Fuja, saia de lá, antes que teu coração se endureça,
antes que a desesperança se instale na tua alma.
Tenha a certeza de que Deus quer te dar a verdadeira paz e o verdadeiro amor, e busque um lugar onde, apesar das inevitáveis
imperfeições,
os irmãos compreendam o verdadeiro sentido do Evangelho e da comunhão
cristã. Saia, e viva, encontre a suavidade de Cristo e abrace-a para
nunca mais largar.
Deus abençoe a todos.
Ruy Cavalcante, Via Púlpito Cristão